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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Quando soava a campainha, ali estava ele na sala à nossa espera. Caminhava de um lado para o outro próximo ao quadro de giz já muito usado. Em cima da mesa uma pasta castanha envelhecida e, no rosto, uns óculos fundo de garrafa que escondiam rugas tão profundas quanto a exigência que eu já adivinhara. Um semblante pouco caloroso e que me fez estremecer antes mesmo de me sentar.
Nas aulas levava os exercícios mais complexos e desconfio que nunca soube como nenhum de nós se chamava. O tempo cronometrado, parcas palavras numa explicação que era o mais concisa possível, sem espaço a muitas interrogações. "Desenvencilhem-se!", dizia ele, lembro-me tão bem. Mas, hoje, é dele que mais me recordo. Por nos ter mostrado como é possível chegar ao destino sem ser por linha reta, assim como a distância em nada é proporcional à ausência, desde que jamais falte vontade.
Ensinou-nos que os números têm um significado maior que os seus algarismos e que as palavras unem continentes tão depressa como provocam tempestades. Agora sei que por detrás do coração que julguei ser frio, o "acredito em ti" esteve sempre lá. Até eu acreditar. Tal como o João que costumava ficar de castigo todas as aulas, ou a Mariana que fazia questão de se sentar na primeira fila. Hoje, como todos eles, também o Simão sabe que é capaz. E a Leonor, a Inês ou o Francisco.
Todos crescemos à força e aprendemos que não são as palmadas nas costas que nos marcam verdadeiramente, senão quem nos diga que os caminhos serão encruzilhados porque as facilidades não se deparam com os mais fortes.
Hoje, apesar da sua exigência e pouca empatia, só aquela turma sabe como dois mil e vinte vai deixar saudade.
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