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Um pouco menos sós ...

por amorlíquido, em 07.04.20

São muitos os posts que tenho lido sobre esta situação que estamos a atravessar. Uns mais esperançosos, outros inspiradores, havendo ainda aqueles que, a meia-luz, conseguem fazer refletir sobre tudo e sobre nada. E todos, mas todos mesmo, são incríveis. Não pela maior ou menor eloquência do discurso, senão pela sensibilidade das palavras escritas. Sabia que o ser humano era capaz de coisas geniais e, ao mesmo tempo, surpreende-me a sua forma inesperada de adaptação, resiliência e solidariedade. Não apenas com os outros, mas consigo também. 

Que a matéria é a mesma, já o sabíamos. Mas a maneira como cada um, na sua diferença, demonstra a capacidade para lidar com as adversidades, é notável. Aqueles que na fraqueza do mundo encontram a sua força pessoal, aqueles que a procuram nos que têm mais perto de si. Os que se isolam porque não sabem gerir, afastamento esse que é, ele próprio, um meio de gestão das emoções, ansiedades, medos e interrogações.

Não há certo nem errado, forte nem fraco. Há os que agora, e como nunca, descobrem um sentido para a vida porque a pausa do tempo lhes permitiu ter tempo para do tempo desfrutar. E aqueles que no remoinho, preferem entregar-se à coragem do vento, sem voltar a olhar para trás. 

Desde sempre que sou apaixonada pelo ser humano, pelas pessoas e até nos atos mais macabros costumo encontrar o fascínio pelo modo como os distúrbios afetam as intenções. Por isso mesmo, seria um gosto saber de vós. Gostava que me contassem sobre como estão a viver esta fase, o que já vos passou pela cabeça, e qual aquele pensamento que vos acompanha todos os dias. Que partilhassem a vossa experiência, vivência, as vossas dúvidas e anseios, e o que têm feito para os ultrapassar. Poderão fazê-lo nos comentários, se assim o entenderem. Caso contrário, e se preferirem resguardar-se da exposição, poderão fazê-lo de uma forma mais privada através do email associado ao blog. Em ambos os casos irei ler-vos com a devida atenção e responder-vos individualmente com a calma que merecem.

Talvez nos consigamos apoiar reciprocamente e, dessa forma, sentirmo-nos um pouco menos sós.

Nunca deixem de ser felizes!

 

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9 comentários

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Isa Nascimento a 07.04.2020

"Que a matéria é a mesma, já o sabíamos. Mas a maneira como cada um, na sua diferença, demonstra a capacidade para lidar com as adversidades, é notável."

Eu também sou apaixonada pela estrutura do pensamento...
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amorlíquido a 07.04.2020

Olá Isa! Sem dúvida que a mente humana é uma surpresa constante e talvez agora, nestas circunstâncias que vivemos, nos debatamos tanto com o que antes nos passava despercebido. Quer daqueles que pensam ao nosso lado, quer daquilo que vai dentro de nós. Um beijinho
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Ana Mestre a 07.04.2020

Olá,

O que se está a passar no nosso país e no mundo, na minha humilde opinião, parece que está a mudar a mentalidades de alguns, está a mostrar o melhor e infelizmente também o pior da humanidade.
Sinceramente, acho que ainda vai demorar até que as coisas fiquem bem, até que possamos respirar de alivio e dizer que "Já passou"!
Conheço pessoas que continuam a desvalorizar a situação e que acham, que para a semana já está tudo bem ... A essas não me canso de dizer que estão desfasadas da realidade, que a situação é critica , mas não serve de muito. Irrita-me quando ouço queixas de ter que se estar em casa, que estão fartos, cansados, aì o meu discurso é sempre o mesmo " Há tanta gente que queria estar em casa e não podem, estão na linha da frente desta guerra a lutar pela nossa sobrevivência !"

E é isto...

Beijinhos
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amorlíquido a 07.04.2020

Olá Ana!

Antes de mais, obrigada pela partilha. Ontem à noite, enquanto via o programa Prós e Contras, ouvi as palavras da advogada Patrícia Motta Veiga, que entre alguns aspetos que tocou acertada e oportunamente relativamente às potenciais consequências nefastas do confinamento e isolamento social, também a ouvi referir que não acreditava que esta situação fosse mudar as pessoas, nem que elas se tornariam seres mais genuínos ou extraordinários.
Fui buscar isto porque é o exemplo de uma perspetiva totalmente contrária à que tenho sobre o assunto. Como a Ana disse, e bem, já fomos informados de muita gente que tornou lucro a desgraça dos outros, o que, desafortunadamente, só nos vem relembrar que mesmo nas alturas piores, haverá sempre quem queira prevalecer e tratar de si, independentemente do que tais ações possam significar na vida e na dignidade de muitos. Mas isso é o pior. E não só acredito que o "pior" não representa a maioria como, pelo contrário, a maioria não se identifica com tais faltas de caráter.

Concordo quando diz que ainda vai demorar a passar. Sem dúvida. E quando pudermos retomar a nossa vida habitual, as cicatrizes deste "tempo" ficarão bem visíveis e trarão consigo vagas consecutivas de muita desigualdade, pobreza, necessidade, insuficiência, carência, desespero, desemprego. É a ponta de um icebergue que ainda nem começou a derreter.
Reconheço a mesma insatisfação com aqueles que desvalorizam o cenário e que julgam que em Dezembro já ninguém se lembrará do que aconteceu. Acho que essas pessoas vivem alheias a tudo o que se tem passado, sinceramente.
Quanto às que estão cansadas, consigo ver os dois lados da moeda. Respeito e compreendo quem pensa que essas pessoas não se deviam queixar, tendo em conta todas aquelas que dão o corpo às balas e lutam diariamente no terreno para travar o mais possível o avanço da epidemia. Contudo, também me consigo colocar no lugar de quem diz estar exausto do isolamento. As pessoas são diferentes, têm personalidades diferentes, e nem todas estão munidas das ferramentas necessárias para fazer frente ao que o confinamento pode acarretar. As estruturas psicológicas não são todas igualmente fortalecidas e aquilo que significa "ah, eu estou bem, entretenho-me em casa com 1001 coisas diferentes todos os dias, nem dou pelo tempo passar" pode implicar para outras contar cada minuto que passa, sem conseguir gerir todas as ansiedades que surgem, os medos que o futuro ameaça trazer.
Numa analogia talvez pobre, não é que não os tenhamos todos, mas se alguns têm armas e ainda não as aprenderam a usar, outros, por muito que aprendam a usá-las, pela falta de balas, nunca poderão disparar.

Beijinhos
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bii yue a 07.04.2020

"Não há certo nem errado, forte nem fraco."
Isto traduz tudo, porque cada um tem a sua experiência e lida à sua própria maneira.
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amorlíquido a 07.04.2020

É isso mesmo. E todas as formas de experiência são válidas, da mesma maneira que todas as formas de lidar devem ser compreendidas, lembrando que escolher não lidar também é um modo de gestão interior.
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Rita PN a 07.04.2020

Mais um post bastante construtivo. Também eu sou fascinada pelo comportamento humano e pela habilidade de lidar com emoções. Porquê, não sei. Mas aprendo imenso sobre os outros e sobre mim.
É verdade que cada um de nós tem uma forma diferente de lidar com a situação, uns agem outros reagem. Essa é logo a primeira diferença. A reacção é sempre mais perigosa, mais institntiva, mais defensiva, mas nem sempre protectora. Na verdade implica mais riscos, porque é menos racional. A acção é racionalmente impulsionada e assente em propósitos mais ou menos concretos. Em tempo de crise, os maiores pilares são os espirituais, e não falo em religião, falo nosso Eu interior, naquilo que verdadeiramente nos faz e dá sentido à vida, na luz que ilumina o caminho, na essência, no propósito de cá andarmos. No fundo, talvez seja uma altura para olhar para dentro e sermos honestos a respeito da nossa missão (o meu ost de hoje vai nesse sentido também).

Pessoalmente, gosto de pensar e fazer pensar. Tenho na escrita o meu veículo, utilizando-o nao só para passar a mensagem, como para fazer reflectir sobre ela, mas também como forma de exorcizar emoções e pensamentos. Esta quarentena terminei a escrita de um livro e iniciei outro. A par, tenho aproveitado para estudar o comportamento social por meio da observação. E com isso, creio que sairei desta etapa mais madura, mais crescida, mais capaz, mais céptica, mas também mais tolerante e predisposta a arranjar maneiras de mostrar a quem se perde outros caminhos, sem dizer "tens que fazer assim, assim e assim". Porque o melhor de nós conquista-se durante a procura, durante a caminhada, durante a luta contra a adversidade.

Um beijinho e obrigado pelo conteúdo
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amorlíquido a 07.04.2020

É tudo isto, Rita! Obrigada!

Sem dúvida que sim. Estou 100% de acordo quando diz que "em tempos de crise, os maiores pilares são os espirituais". Acredito realmente que assim seja, e é nesse sentido que defendo a importância do autoconhecimento, da autorreflexão. A pessoa deve ser capaz de olhar de fora para dentro, de construir um diálogo consigo, de se criticar quando for preciso, sem deixar de se amar quando surgem as incertezas ou arrependimentos.
Este é um momento em que podem reaparecer pensamentos relativos ao passado, de ponderação de atitudes e decisões tomadas, numa espiral de ruminação que corrói a esperança e a tranquilidade. É um percurso descontínuo, com avanços e recuos, de construção interior, e que pode ser agora uma boa fase para o fazer. Uma coisa é certa, tem tando de solitário como de recompensador!

Grata pela tua partilha. Não somente aqui mas no teu blog, nos teus escritos. Leio mais do que aqueles que comento e fico contente que encontres, através da arte da escrita, uma forma de expressão e inspiração. Tua e dos outros. De uma coisa não tenho dúvidas, ter a consciência e o entendimento da mudança, por muito subtil que ela seja, já é um ganho. Seja na maturidade, na tolerância, na resiliência e tenacidade. Não quer dizer que saiamos pessoas diferentes, mas podemos sair melhores versões de nós.

Parabéns pelo livro! Beijinhos
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Rita PN a 07.04.2020

Sem nada mais a acrescentar, volto a agradecer a sabedoria presente na resposta ao meu comentário.
Muito de acordo com o descrito.
No que diz respeito ao meu cantinho, não há qualquer problema em não comentar. O propósito é apenas reflectir. E agradeço cada visita, assim como as palavras dirigidas.

Melhores versões, sem duvida. Quero muito acreditar que assim será.

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