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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
O tempo guarda-se em versos
e é vida tudo o que existe nas estrofes.
Da morte nasce afinal a poesia,
ou será que por magia
o poema somos sempre nós?
Ella era el último pétalo caído
de una flor blanca y carnuda
perdida entre la libertad que tanta no quería
y el tiempo que nunca supo como no quererlo.
Allí
en un jardin cantante,
deteniendo la sangre de su alma
el otoño deshizo las heridas
el dolor huyó por el mundo
y aquel jazmín desnudo
se ha muerto de frío.
Há sombras que se respiram em medos que se consomem
corpos que fodem
como palavras que urgem na arte de quem se julga perdido
em suor que derrete das vírgulas,
no êxtase de aguarelas que se pintam,
e antes que o olhar aí se perca
na noite esses dois poetas
sangram amor versos vazios.
(Os Amantes, 1928, René Magritte)
Se fores um jardim de outono, eu serei a última pétala
se fores o coração, eu serei a seiva de cor inflamada
e se for a vermelhidão do amor, tu saberás como amar.
Se fores os olhos, eu serei as rugas que rasgam no teu sorriso
e se fores sorriso, eu serei os teus lábios.
Se for os teus lábios, tu serás o desejo
se fores o desejo, eu serei pão torrado
e tu a manteiga a derreter.
Se fores o vento, eu serei os teus pulmões
como tu a fúria das marés
e se fores maré, eu serei o sal do oceano
se for oceano, tu serás a areia húmida
que entranha o frio nos meus pés.
Se fores corpo, eu serei o teu tempo
e nesse tempo não saberei como parar.
Se fores lágrimas, eu serei o teu rosto
se fores um livro, eu serei o aroma das páginas por ler.
Se fores poesia, eu serei cada estrofe
se fores pintura, eu serei uma tela em branco
se estiver por colorir, tu serás artista
e se fores a arte, serei a lucidez de não adoecer.
Se fores a lua quente de verão, eu serei sol de inverno
se for inverno, tu serás a chama da lareira acesa
e se fores fogo, eu serei as cinzas do dia seguinte.
Se for noite, tu serás um copo de vinho
e se fores frutado, perder-me-ei na canção de fundo.
Se fores música, eu serei Chopin em apogeu
mas se fores o orgasmo de um piano, então serei as quatro estações.
Se fores o silêncio, eu serei segredo
e se for segredo, ficarei debaixo da tua pele
se fores pele desnuda, eu serei o toque
o beijo
e o abraço
se for abraço, tu serás verdade
e se for de verdade, faremos amor com todos os sentidos
porque se for sentido, tu serás vida
e eu a vontade de viver.
Em janeiro caía a pedra
cinzenta e perdida
naquela rua esquecida
entre chão outonal de fevereiro.
Folha a folha, um livro colhi
na imensidão das palavras que o solo trazia
todas elas fui escrever
para mais tarde nascer
o março no meu jardim.
Ó caríssimo amigo que já espreitavas
pelas manhãs ingénuas de charme hostil
foste tu meu companheiro
das noites a corpo inteiro
que roubava o sol de inverno
o cheiro e calor terno
amor disfarçado de abril.
Pestanejei e não ver voltei
a não ser o novo maio
que é quente e tão solteiro
brincando com o meu lamento
pedi somente ao vento
que o guardasse longe de mim.
Junho e Julho são momentos de paixão
os corpos nus sob a verdade da lua
as roupas despidas no cachecol da vida
que tropeça e arremesa
porque quando a saudade é pressa
arderá em febre o coração.
Louco agosto que desgosto
essa mania de atenção
é o suor que pinga do rosto
como um dilúvio de sofrimento
mais que o corpo em esgotamento,
sente-se a alma em aflição.
Mas que rapidez, já cá estamos!
No mês de todos os regressos
onde nos olhares ficou impresso
os lugares aos quais não voltamos
em setembro recordamos
o sabor dos mil excessos.
Entre ténues gotas da chuva
e as de desgosto seu,
lá em outubro a água perdia o rumo
e o amor que nasceu no mar
neste mês faleceu.
Ora novembro que se aproxima
com dezembro pelo canto do olho
voltam os dedos frios
embrulhando olhos em rio
pelo verão que já passou.
No paredão vejo o degelo
que a lareira há de trazer
depois de janeiro ter deixado
fevereiro feliz e enamorado
outros dez irão conhecer
as mãos que roubam ideias
ao céu, às flores alheias
quer faça chuva ou tudo seque
juventude verde leque
nesta nossa pele deixar-se-á adoecer.
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