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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Lá fora, o mundo caminhava sozinho. Desfeito e imperfeito em dias que se repetiam sucessivamente. A lua tornou-se protagonista de um ciclo no qual o sol adoeceu. Faltavam sessenta pequenos instantes para que aquele relógio de parede no fundo da sala fizesse soar as vinte e uma badaladas. Sabia que mais tarde ou mais cedo irias entrar pela porta e estava incapaz de conter a ânsia que tinha de te ver. Sentia-nos distantes. O cheiro da tua pele ainda abraçava o meu sangue, mas faltava o toque. Já havia esquecido o encontro das nossas mãos, o teu sorriso tão expressivo, o calor da tua respiração.
Hoje, tal como ontem e amanhã seguramente, aqui estou eu, sentada à espera do teu regresso sem nunca te ter visto chegar. Porque davas mais que o corpo à tua maior paixão. Porque apesar das vidas que se perderam, nunca desististe de voltar a salvar. Porque nas trincheiras o tempo passa sem passar, em horas que ultrapassam um dia inteiro. Entre os gritos de aflição porque as feridas chegaram à essência. Entre dores que não contêm oceanos de lágrimas. Entre a vida e a morte, o presente e o futuro, o vencer e o aprender. Entre o lutar e o deixar-se perder.
Aquela noite seria uma viagem com a solidão. O coração em aperto por ti e pelas derrotas que tiveste de enfrentar, sem saber quando ou como voltarias para ao pé de mim. A última vez que nos vimos, faz alguns meses, foi difícil. Muitas palavras ficaram por dizer numa certeza de que no dia seguinte estaríamos juntos novamente. E depois também. Faltou aquele "amo-te" que o olhar soletra gritando por dentro. Faltou o "aconteça o que acontecer, vivê-lo-emos juntos", sem pensar alguma vez que o pior pudesse suceder ou, como agora, sem perspetivas de quando poderá terminar.
Mas o melhor (dentro do pior) é que aqueles abraços sinceros hão de ser nossos outra vez, e que apesar da ausência sabemos ambos que nos temos um ao outro. Aconteça o que acontecer, somos todas as promessas cumpridas, as caminhadas feitas e os lugares ainda por conhecer. Sabemos que o futuro está guardado para quando o melhor momento vier e que a Camila ou o Gonçalo chegarão quando o mundo conseguir cicatrizar. Sejamos três ou quatro, ou cinco como já tantas vezes desejámos, existem dois que vão sempre lá estar. Pontes que apenas unem e pilares que lutarão para o todo permanecer intacto. Confiamos um no outro, não é?
A vida tirou o tapete, a nós e a tantos outros, mas lembra-te daquilo que sempre dissemos: "O que é leve a gente leva. O que custa a gente faz. Se dói a vida releva. Se é o nosso, o tempo traz." Amor coragem, amor esperança, amor vontade. Não desistas. Quando chegares, a humanidade não estará na mesma, mas aqui tudo o que construímos manter-se-á igual. Só te peço uma coisa, quando a areia molhada decidir secar e as nuvens começarem a desafazer-se, leva-nos para o outro lado do mundo que nós somos o sol e aqui todo o dia continuará a ser de noite.
Amo-te
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