Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Desde miúda que sempre sonhei muito. Queria trabalhar com pessoas e para pessoas, queria descobrir o mundo o mais possível até ter um mundo maior do meu lado. Cedo soube quais os planos. Estudar, trabalhar e ser Mãe. Para mim, a maternidade era uma meta a cumprir, estando consciente de todos os passinhos prévios que teria de tomar para que esse amor chegasse num momento estável, desejado e refletido. Até hoje não sei bem se este processo pensado foi algo que surgiu naturalmente em mim, se, porventura, resultou de pressões sociais que (ainda) existem, ou, talvez, de ambos.
À data do presente dia, 12 de Janeiro de 2021, olho para trás e muito disso mudou. Não que tenha acontecido numa luz relâmpago que demarcou claramente o antes e o depois, mas num arrasto lento de constantes avanços e recuos. Acho que essa transformação foi gradual e sinónimo de amadurecimento saudável, contudo, tantas são as vezes em que me questiono: "É possível que apenas eu tenha mudado?"
Durante muito tempo as redes sociais tiveram uma importância considerável na minha vida. Era moda. Era viciante. Durante horas a fio. Hoje, são poucas as vezes que por lá passo. Por motivos académicos e profissionais tenho de manter algumas delas e, por essa razão, de vez em quando cruzo-me com antigos/as colegas de infância e adolescência - tempos em que os meus sonhos eram mais que certos. Muitos/as deles/as estão casados, com casa própria, emprego estável e a caminho do segundo filho. Há alturas em que lido bem com isso, pois sinto que AINDA não chegou a minha vez. Há-de chegar, sei que sim. Mas depois há outras em que penso que, algures pelo caminho, perdi o comboio e, agora, terei de ir a pé. Podia ter corrido? Sim. A incerteza não mo permitiu. Se foi um erro? Continuo à procura da resposta a essa pergunta. Para onde deveria ter ido? E agora, para onde vou? Em que lugar devo parar?
Cada vez mais sinto distantes aqueles sonhos de menina. Sinto que me fogem porque outras vontades e inseguranças insistem em surgir. O amor adia-se assim como os projetos perdem a nitidez no seu percurso. E naquela bifurcação enevoada, não me abandona o peso de (ter de?) seguir o padrão. Talvez porque na norma cada etapa está bem vincada. Por muito que se inverta o que está ditado, o tempo voltará a levar esses transeuntes aonde querem chegar. Em contraste, o desvio traz acoplada a dúvida, o desconhecimento e a deriva. Quando chego? Para onde devo ir? A quantos nós?
Olhem que sou pessoa de (a)mar, mas morro de medo de ter uma só vida e de vivê-la em contramão.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.