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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Ali estava eu. Sentada sob o silêncio da noite cerrada, onde o ruído dos pensamentos se confundia com o eclodir sucessivo das ondas, permaneci no intervalo entre o medo da solidão e a vontade de que ela nunca me tivesse abandonado. Foi nesse instante que senti o frio chegar. Uma essência gélida disfarçada pelo ímpeto do querer. Não a mim em particular. Um impulso satisfeito por qualquer estrela daquelas que, do céu, me viu chorar.
Na aproximação de um calor bipolar, senti-me estremecer. Quis recuar com uma certeza pobrezinha e foi nessa fragilidade que a praia inteira me testemunhou congelar. A humildade de uma dezena de Primaveras fez-me ficar longe da consciência do desvio, tanto como da bravura da negação. Como a areia entre os dedos, fugiu-me a assertividade das palavras assim como a confiança no que sabia ser-me invadido. Mas hoje...
...Hoje sei. Numa mistura entre a compreensão e as sensações, no entretanto que vai da perceção do sentimento à convicção do desrespeito. Que o esquecimento do mundo inteiro foi por falta de amor. Nosso. Naquele momento. Uma distância nas vivências conseguidas, não pela covardia de descobrir senão pela ingenuidade dos anos passados comigo mesma.
Hoje penso na culpa como sendo mais que minha. Penso no que perdi sob a luz da intrusão. Penso no que sofri pelos gritos de socorro serem em vão. Hoje sei que houve coisas que não tive tempo para desejar ter. Penso nas memórias que me afastaram de quem quis ser mais que um mero abrigo. De quem quis amar sendo mais que amigo.
E a Primavera que virou Verão, apesar do calor vestiu-se de inquietação. Antes que o dia nascesse, naquele dia e pelo frio, acho que me tornei Inverno para sempre.
Pergunto-vos: quando nos roubam algo que só a nós nos pertencia, como confiar em quem cuide do que não queremos que nos pertença nunca mais?
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