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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Há uns dias, quando me cruzei com esta fotografia tirada num lar em Espanha, o polegar, com a pressa de seguir viagem, recuou na curiosidade do que o olhar havia captado. E nesse breve instante, antes que o medo fizesse transbordar as feridas retalhadas, houve espaço para a reflexão.
Um mundo que se antevê dividir-se em dois momentos não mais indistinguíveis, onde habita o tempo do abraço sem as divisas urgentes à proteção? Em que lugar desta história se deixará perder o cheiro da pele ou a fusão de demais vontades? O poder assustador que emerge da falsa proximidade, entre amores que, apesar do beijo, continuam distantes. Porque falta tudo o que se mantém humano.
Vestiram-se as fronteiras da sensibilidade, transpareceram-se opostos que refletem a incerteza de sentir esperança e, no abismo entre o que resta do que é só nosso e o que pertence ao outro apenas, mascara-se o ímpeto da união. Fecham-se as portas da partilha, as janelas dos não-segredos. Sente-se por dentro o que deixou de existir por fora, na imaginação do que ainda ontem era presente.
Que o futuro nos solte as amarras do que soubemos estar longínquo e que a dificuldade que atravessamos nos faça ver para além das barreiras, agora, necessárias. Que a incógnita do amanhã nos ensine, hoje mesmo, a importância da presença inadiável, a emergência de palavras cantadas em sussurro. Frente a frente, sem écrans, sem personalidades enevoadas, sem intenções mal direcionadas.
Talvez o amor se isole de vez. Da ausência, da não transparência. E os que careçam da sua pujança, serão os primeiros a falecer.
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