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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
O sol mal acabara de nascer num ímpeto de protagonismo ainda pouco amadurecido. Talvez escondido pela vastidão do ultrapassável, cuja acumulação tornara míope o vislumbre da realidade. Entre ele e o mundo outro permanecia uma transparência embaciada, fruto da precipitação do dia anterior.
Sobre a mesa redonda, entre pensamentos pouco escritos, sentia-se o aroma torrado de um café acabado de fazer. O arrependimento engolido em seco, de pálpebras trémulas que tingiam os papéis em branco, tornara urgente a expulsão do que acorrentava o peito. Ao passado pouco vivido. Ao presente por viver. E, sem querer, ao rasgar a pele desiludida, a luz do verão apareceu.
As flores falecidas por dentro derramaram o sangue deprimido de um corpo sem norte. Aliviado por respirar nas pausas do tempo, crescido das suturas que o protegeram da morte. Sob a madeira velha que rangia, a ansiedade mostrava-se num ritmo descompassado. Pela incerteza de um destino só. Pelo medo de escolher o fim ao qual não se pertence. Ele, fundido ao que não volta, aguardava que o futuro lhe trouxesse a sorte.
Numa chuva interrompida por soluços do vento, o lápis tremia em rabiscos feitos à pressa, com palavras soltas guardiãs do que mais revolta. Porque era seu e foi perdido. Porque se entregou e foi esquecido. Mas no esquecimento sempre habitou o antónimo de amar. Entre a ausência e a possessão talvez exista o tempo de fugir dessa prisão. Que em contraluz a favor do luar, as lágrimas correm para o desaparecimento. Do que parou os minutos da mente, do que travou corações para sempre. E quando o dia próximo for seu, sobreposto ao hoje que estará por viver, quem sabe se o calor do café não será bebido sem não mais doer.
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