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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
(Um especial agradecimento à autora desta fotografia - a concha - pela simpatia com que ma permitiu partilhar, pelo talento que no seu cantinho encontrei e pela inspiração que me conduziu a este momento de sinceridade)
(foto retirada do blog a hora de passear a poesia)
Observam os lugares nesta imagem? As cadeiras, vêem-nas vazias ou cheias de gente?
É no contraste que evoluímos. É na solidão que nos sentimos acompanhados por quem vive além de nós. Na poesia que cresce apesar da revolta do que não sabe como existir.
Sabem aquela sensação de nos sentirmos finitos? De sentir o ar preencher os pulmões, o vento lutar contra o caminho que queremos seguir e, ainda assim, olharmos para as nossas mãos e não sermos mais que essa matéria que se mantém de pé em solo firme, que começa, termina ali e em mais nenhum lugar?
Talvez um distorção percetiva, um tanto compreensível em alguém que se assume sonhador. A ausência de gente que ama e que pensa, é impossível. Vejo os sorrisos que abraçam pais e filhos, lábios que mal conhecem a espera da fusão entre apaixonados. As cores dos calções dos gaiatos, as luvas das duas amigas de longa data que todas as semanas têm naquele espaço hora marcada. Sei de cor a textura das peles envelhecidas pelo sol, ou o tilintar das chávenas que se aquecem pelo café acabado de fazer. O brinde das imperiais que se cruzam entre amizades.
Inúmeras vezes penso em como terminamos daqui a nada, mesmo aqui ao lado. O corpo enfraquece, a pele cede à pressão das vivências, os olhos ao peso do que a alma tentou suportar. Chegamos e partimos num lugar que existiu antes de nós e viverá após mais não pudermos permanecer.
Hoje, como todos os outros dias, estou de passagem pelo silêncio que me faz parar e escrever porque a alma sempre encontra essência no que olhar só vê vazio. Dobram-se os cantos desta folha, como se enrolam as minhas indecisões. O vento leva as vírgulas, compassa as ideias crescentes. Ficam as possibilidades, as infinidades. Sobram os pontos. Os intermédios, os inseparáveis ou os finais.
Quem sabe eu volte ao entardecer ou ao luar.
Talvez vos encontre ou, quem sabe, talvez viagem comigo para onde levar a arte de querer sonhar. Sempre.
É tarde, deixo a moeda que paga o café confidente e um poema de gorjeta para o rapaz de todas as horas.
Olhei. Inspirei.
O vento visitou-me mas as janelas estavam indispostas
e não pude recebê-lo.
Cumprimentei as páginas que me ofereceu
como as que levou sem permissão.
Porque, rapaz, na permanência do que nos é temporário
aprendemos a estar indefinidamente.
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