Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Fragilidade.
Liberdade.
Saudade.
Palavras que representam momentos. Do tempo e do seu passar. Da verdade e da sua descoberta. Do fugir. Da idade. Mas ...
Não será na ingenuidade do começo a única altura em que somos verdadeiramente livres? Livres do pensamento dos outros que, afogados no julgamento, nos impede de não pensar. Libertos das amarras de vidro que as crenças nos fizeram enlaçar.
E a liberdade? Não será no instante dessa convicção que nos tornamos seres capturados pelo desamparo da suposta possessão?
Uma linha aparentemente reta, onde a continuidade rouba-a o discernimento. Ângulos rasos sucessivamente interrompidos pela ausência de determinação. E a liberdade nossa encontra-se em malabarismos de dúvidas constantes. Fará a interrogação parte da independência ou é no recuo de um ação incerta que descobrimos a liberdade da ilusão?
Não creio numa liberdade iludida senão numa quimera irreal onde sempre existiu escolha para a libertação. Não num tempo de delicadeza orgânica, quando o tamanho do que nos suporta é inversamente proporcional à bondade do coração que nos alimenta. Não. Aí, não. Mas quando o sangue se corrompe dentro de nós, e os limites das intenções viajam muito além das fronteiras da pele, numa ponte estreita com a maldade que vive debaixo do céu.
A liberdade preambular da nossa rota não muda. A possibilidade de ser, de querer, de procurar. Tudo se mantém. Porém, dela desistimos. Porque a retilineidade dá espaço a um percurso desnivelado, onde a necessidade de justificação é, em quase tudo, imediata.
A possibilidade do ser transforma-se na certeza do talvez aceitar. Deixamos um qualquer querer, para a restrição termos de enfrentar. Não por nós. Pelo que vive cá fora. Pelo que não nos pertence. E é nesse fosso que caímos redondamente.
Um dia, quando a maturidade nos permite vislumbrar a fragilidade da utopia que ambicionámos e a liberdade que, sem sabermos ter, deixámos ir, resta-nos a corrida lenta de um remorso encarnado. Porque a liberdade ainda a sentiremos, mas o nosso corpo voltará a abraçar a fragilidade.
Do mundo levaremos algo. Nós.
Do que fica levaremos tudo. Não na matéria. Apenas em saudade.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.