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Pequenas Lições de um Pai

por amorlíquido, em 31.03.21

- Pai, como fazemos para nos sentirmos menos tristes?

- Tu estás triste, filho?

- Agora não, mas como nos podemos proteger da tristeza?

- Não podes, Santiago. Nenhum de nós o pode. É como quereres proteger-te de sorrir para não o fazer. Gostavas de saber como não sorrir?

- Não, mas sorrir faz-me sentir bem e feliz. Não gosto de me sentir triste.

- A tristeza faz parte da vida, filho. Tal como as alegrias nos momentos em que só te apetece correr, saltar, brincar e, claro, sorrir. Mas para isso precisas, outras vezes, de te sentires triste, angustiado, preocupado, hesitante, confuso. 

- A sério, pai? Mas eu ainda sou tão pequeno. Tenho de sentir tudo isso?

- Já o começas a sentir. Lembras-te quando o Kikas começou a ficar frágil por ser tão velhinho? 

- Sim. E acabou por morrer. Chorei muito nesses dias.

- Porque choraste?

- Porque fiquei triste.

- E recordas aquele dia em que estávamos no jardim perto de casa da avó e vimos um patinho perdido, sem conseguir encontrar a mãe?

- Ai! Sim, sim, pai! Lembro-me muito bem. 

- E o que aconteceu? 

- Nós fomos à procura da mãe e pusemos o patinho perdido ao lado dela. 

- Pois foi. E sabes uma coisa? Nesse dia, chorei eu. 

- Por que razão, papá? Não ficaste contente por o patinho encontrar a sua família?

- Fiquei, muito mesmo. Mas antes de ter ficado feliz por isso, fiquei angustiado e preocupado sem saber se iríamos conseguir encontrá-la e juntá-los como assim deveria ser. 

- Hã? Ficaste triste e depois contente? 

- Sim.

- Pela mesma coisa?

- Claro. Como pelo Kikas, que nos proporcionou os momentos mais deliciosos e, na altura de partir, ficaram as lembranças e as saudades. Fiquei contente e depois triste. O patinho foi igual, mas ao contrário.

- Hum, acho que entendi, papá. 

- Na vida, as coisas acontecem mais ou menos da mesma forma, Santiago. Os momentos tristes existem para que os felizes possam brilhar. Tens de te sentir triste em determinadas alturas, para quando voltares a ter vontade de sorrir, saibas que isso é sinónimo de bem-estar e satisfação. Não vais sorrir sempre e também a tristeza que possas vir a sentir nunca será eterna. Isso vai fazer-te crescer!

- Mas, papá, eu já sou grande!

- Não, filho, quando fores maior. Vais aprender que a vida é a coisa mais bonita que existe, mesmo que ela traga consigo algumas situações menos prazerosas e mais difíceis. Podem magoar-te, fazer-te sofrer, mas o que importa é para onde vais. 

- Não vou para lado nenhum!

- Vais sim, filhote. Não importa o que passaste, as vezes que choraste, os dias em que te sentiste muito triste. Importam os sorrisos que o amanhã vai trazer. O entuasiasmo e a euforia! Precisas de estar triste de vez em quando para saber que é a sorrir que queres viver, compreendes?

- Mais ou menos, mas como tu dizes, é algo que vou aprender.

- Vais sim e eu estarei ao teu lado. Não estarás sozinho. 

- Como o patinho?

- Sim, filho! Como o patinho.

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La Flor Cantante

por amorlíquido, em 30.03.21

Ella era el último pétalo caído

de una flor blanca y carnuda

perdida entre la libertad que tanta no quería

y el tiempo que nunca supo como no quererlo.

Allí

en un jardin cantante,

deteniendo la sangre de su alma

el otoño deshizo las heridas

el dolor huyó por el mundo

y aquel jazmín desnudo

se ha muerto de frío. 

(Roses or The Artists Wife in the Garden, Peder Severin Krøyer)

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Vestir Coragem

por amorlíquido, em 29.03.21

Corajosos são todos aqueles que suturam as feridas abertas com sorrisos vestidos de medo.

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Somos Musicais

por amorlíquido, em 26.03.21

Na gaiola do musical que somos

que aprendamos a prender somente os medos

abramos a porta a todos os sonhos

e não deixemos voar nenhuma vontade.Monochromatic Archives » CSS Author | Dance photography, Dance, Dance art

(Imagem retirada de aqui)

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Os Viajantes

por amorlíquido, em 25.03.21

Que tendência tola a nossa
a de sentir falta do que não precisamos
de insistir no silêncio com quem merece que gritemos
de não permanecer calados com quem somente quer que escutemos,
de vestir o orgulho em vez de oferecer aquele abraço.

Que tolos, caramba!
Não há meio de aprendermos
que as ondas não pararão de eclodir
que o gelo não deixará de derreter
debaixo de um sol que nunca se esquece de despedir.

O mundo não para apesar de fingirmos que sim.
Guardamos o "desculpa", o "obrigada"
e, como tolos, o "gosto de ti".

Um dia,
o destinatário some da presença sem nos abandonar.
No peito pesado morará um coração mudo em derrame,
que transborda
o arrependimento do que não dissemos
às pessoas-trevo que só depois soubemos
a arte que ocupavam em nós.

The Voyageurs by Bruno Catalano

(Les Voyageurs, Bruno Catalano, Marselha)

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A Reprodução Interdita

por amorlíquido, em 24.03.21

Não sei se morremos do desalento pelas nuvens que não ficam, ou se da sede que temos de que a escuridão arrefeça em dias de sol. Um tempo que cai abruptamente no limiar do que as mãos alcançam, invisível, que sob os pés recua e no céu escondido da lua, não anda nunca para trás.

Estaremos doentes num corpo que é insónia da saudade? Na taquicardia que sorri ao vulto de pensamentos, atropelados pelo amar que não se deixa adormecer. Mas o mundo, lá fora, dorme, numa profundidade que não cabe no sustento da respiração. A viagem repete-se todas as noites, horizontalidade inquieta, com medo de que, um dia, não se mova para lado nenhum. Que sucumba ao sono da fome de amor. De sofreguidão. Da sede que água não mata, ainda que o oceano acalente. Na fúria do ter em demasia ou de que o sopro de dezembro leve sem devolver. Imóvel. Como um revólver indeciso que rasga a partir de dentro. Uma gaiola onde tombam as ideias e as vontades, onde o metal que lacera as veias abre a janela do “porque não tentar?”.

Fugir do tempo que é filho do passado, do socorro que é vizinho do lado, da espera que para mim chega de esperar. Que é tarde e há sonos com receio do escuro, outros talvez com ânsia de aquiescer o ímpeto da fuga. Como sonhos de querer que a geografia se sobreponha ao cantar clássico dos melros, e de que às nuvens não as veja nunca mais.

La reproduction interdite | Rene magritte, Magritte, Arte surrealista

(La Réproduction Interdite, René Magritte, 1937)

 

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