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Palavras. Pensamentos. Desabafos. Em prosa ou em poesia. Com a voz de um amor que se tornou líquido.
Ela é da cor da Primavera
no terraço da vida sentada à espera
que a dor do vazio desvaneça
e que no mundo talvez aconteça
o grito da eterna união.
Entre lágrimas de um laço perdido
desfeito, porém sentido
nasce o sorriso da descoberta.
Aprende-se a sentir o invisível
a querer o não possível, e
numa janela entreaberta
voam certezas pouco certas
ficando o cheiro de um p'ra sempre amor.
Na verde esperança de uma nova história
crescem dúvidas nas raízes
abraçadas ao medo do insistir.
Do sal que corre no rosto
beija-a a curva do acreditar
que do ritmo que nela sofreu
a natureza há de recriar
a existência de um futuro alguém.
Sim, cor de Primavera
tal como ela
que de vida se soube mãe.
Há uns tempos escrevi que: "Louco é aquele que num mundo onde reina o descompromisso, insiste abraçar o amor". Nunca esta frase me fez tanto sentido. Mas também nunca me assustou tanto o não encaixe. Entre os que ficam por gostar e os que preferem ir ficando, sem nunca realmente estar. Em sítio nenhum. No coração de ninguém. Laços que surgem como amarras, aos olhos de quem pouco quer investir. Não será isto um contrassenso? Pela força do nó que os separa?
Talvez o medo não esteja no ímpeto do elo, mas no receio de que ele jamais se desfaça. E no que o mundo vê desgraça, esses loucos descobrem o valor de amar.
Não tenho o costume de me pronunciar sobre a vida de ninguém, muito menos quando só conheço aquilo que vejo de fora e que, muitas vezes, como nós sabemos, surge enviesado. Ainda assim, e pela magnitude do que o acontecimento representa, queria deixar-vos algumas palavras.
Artistas também sofrem. Eles e os matemáticos. Os ricos e os pobres. Os negros e os brancos. Numa dicotomia que nada tem de antítese. Não importam as causas, os credos, as raças ou as ideologias. Antes de tudo, são humanos. Somos humanos. E envolvo-me, a mim, a si, a quem me leia, porque, enquanto passageiros desta viagem, todos somos suficientemente frágeis para padecermos. Não se enganem os que julgam impossível passar pelo mesmo. A vida tem essa particularidade de sabermos nada mais que o presente, somente o chão que pisamos. O de hoje. Diferente do passado que já não temos e muito distinto de um futuro ao qual, afinal, nenhum de nós pode afirmar conseguir chegar.
A saúde mental continua a ser desvalorizada, menosprezada, muitas vezes criticada. Porque "tem tudo para ser feliz". Porque "olha à tua volta, vê o que tens e agradece". Porque "há quem esteja muito pior do que tu". Porque "há quem desse o mundo para ter aquilo que tu tens e que não valorizas". Porque, porque, porque ... E no meio de tantas conclusões feitas ao acaso, eu pergunto-me: " E porque não?". "Porque não eu?". "Porque não ela ou ele?". Há demasiados "porques" constatados e poucos que assumem a forma de interrogação. "Porque estás assim?". "O que está a acontecer para te fazer sentir isso?". "O que sentes na verdade?". "Como vês o dia de amanhã?".
Sei que, muitas vezes, não se trata de desinteresse ou despreocupação por quem está de fora. Há pessoas que, imersas na dor, conseguem brotar o maior dos sorrisos, passando despercebido o que vai no mundo de dentro. É mais complexo do que aparenta, mas nem por isso merece menos o nosso cuidado ou atenção. E é por isso que gostaria de vos deixar duas notas:
1 - Aos que conhecem, lidam ou estão próximos de alguém que esteja a atravessar uma fase difícil, a quem notem um olhar empobrecido, um discurso desprovido de esperança, um isolamento invulgar, não invadam, porém não descuidem. Mostrem-se presentes, lá ao lado, com a capacidade de escuta que a pessoa precisa e não aquela que vocês estão dispostos a dar. Uma pessoa que se sinta fragilizada, amargurada, triste, com vontade de desistir, na crença de que nada mais vale a pena, necessita de quem a entenda, de que a ouça sem filtros nem preconceitos, que não atribuam frases tolas na tentativa vã de comparar sofrimentos. Todos somos diferentes, as bases de construção não são as mesmas, e as ferramentas que vão sendo limadas à medida das vivências, para com elas saber lidar, são muito fruto do mundo que conhecemos, da forma como ele nos é/foi apresentado, dos exemplos que aprendemos a seguir. Não se esqueçam: aquilo que acontece no mundo, o mundo inteiro sabe. Aquilo que acontece no nosso mundo, só cada um o conhece. Não há espaço para julgamentos nem estigmas. Abertura, disponibilidade, tempo, carinho, presença, amor e aceitação. A 200%. Sempre.
2 - Aos que tenham sentido ou que continuem a sentir que não há lugar para o espaço que ocupam, que sempre tenha existido, no vosso interior, uma sensação de descrença por tudo, de não querer, não desejar, um vazio que consome a carne e os sonhos, a força de poder acreditar, peçam ajuda. Se sentirem que não fazem parte, que não se encaixam, que aquilo que estão a atravessar não tem solução e o melhor é acabar com a dor que vos inflama e deixar a alma descansar, peçam ajuda. Qualquer que seja o motivo, peçam ajuda. De um familiar, de um amigo próximo, de um profissional. Falem, desabafem tudo. Pedir ajuda não é nem nunca será sinónimo de fraqueza, antes pelo contrário. É a coragem que emerge do mais profundo, do cansaço extremo, do reerguer para uma nova oportunidade. É colocar no mundo não nosso, o peso que vos encolhe por dentro. Não há medo nem vergonha. Do outro lado terão apoio e abraços de compreensão.
E porque os que conhecem hoje, podem vir a sentir amanhã. Ou porque os que ontem sentiram, podem hoje conhecer alguém, deixo, a ambos, linhas para poderem pedir ajuda num momento mais imediato, onde vos ouvirão e irão orientar-vos. Não importa o vosso nome, a vossa idade ou de onde vêm. Lembrem-se: são humanos. Somos humanos.
Linha Jovem - 800 208 020
Linha LUA - 800 208 448
Linha SOS Bullying - 808 962 006
SOS Estudante – 96 955 45 45 ou 808 200 204
Telefone da amizade – 228 323 535
S.O.S. Adolescente - 800 202 484
Conversa Amiga – 808 237 327
Linha SOS Palavra Amiga - 232 42 42 82
Centro SOS-Voz Amiga: ajuda na solidão, ansiedade, depressão e risco de suicídio
Telef.: 21 354 45 45
Telef.: 91 280 26 69
Telef.: 96 352 46 60
O amor. Gosto dele, mas não de uma forma qualquer. Gosto de amores artistas, irónicos e antíteses na sua essência. Amores com cheiro entre terra molhada e maresia primaveril. Não gosto de amores extremistas. Gosto de amores humildes. Amores de pé descalço na areia, amores com cor de jacarandá a despontar na liberdade. Pois é, gostos de amores sem idade. Amores que se definem na sua maturidade. Gosto de amores vividos a todos os tempos, num crescendo de mil e uma vontades. Ai se gosto! Gosto mesmo! Gosto tanto, de amores com sabor a pão torrado com manteiga, amores com a mesma esperança de um pôr do sol que se despede no reflexo de um gin por beber. Gosto de amores que se demoram. Gosto de amores de esplanada. Não gosto de amores de discotecas, ávidos de uma única intenção. Não gosto de amores escondidos nem desconhecidos. Não gosto de amores que andam de comboio, que esperam outras horas, tentam novas carruagens, em carris que os levam ao mesmo destino de sempre. Não gosto de amores de sexta-feira, na pressa de ter de qualquer maneira. Não, gosto de amores que duram a semana inteira. Amores que andam a pé, que se perdem nos cruzamentos da cidade, nas construções feitas de granito. Gosto de amores que sabem o padrão da calçada. Amores sem mapa. Que se entregam à aventura, amores que pensam "planear para quê?". Não gosto de amores do "amanhã logo se vê". Gosto de amores que se olham envergonhadamente ainda o sol está por nascer. Gosto de amores que se abraçam numa tarde de tempestade. E de amores que se confortam à luz da lareira acesa. Gosto de amores complexos mas que não complicam. Gosto de amores que invertem os minutos do dia. Amores que conversam toda a noite. Amores que mantêm o beijo apesar do verão perdido. Amores que culminam a entrega na fusão entre duas verdades. Não gosto de amores que saltam etapas, que esperam ter sem nunca dar. Amores que se mascaram para impressionar. Desses não gosto. Gosto do amor. E de amor. Com múltiplas formas, em todas fases da lua. Ah! Esqueci-me! Não gosto de amores indecisos nem de amores que se despedem antes do laço. Gosto de amores que se conhecem à beira-mar. Que na força das ondas, sabem onde insistir e aonde não voltar. Gosto de amores assim. Dos que vivem tão dentro como fora de mim. Não gosto de amores utópicos. Mas gosto de amores com saudade do que nunca tiveram. O amor. Gosto dele contraditório. Ao contrário. Amo amor poético. Não vos contei ... lembrei-me, por falar em saudade, gosto do amor que multiplica quem se percebe só metade.
Oxalá o mundo soubesse
do violino ladrão de sonhos
do saxofone vendedor de sorrisos
ao piano doente de amor.
Se ele imaginasse
a guitarra envolta em coragem
para um contrabaixo somente indiferente.
Ai, mas sei eu que ele não conhece
o maestro que adormece
antes da hora da sinfonia.
Se na orquestra coubesse
a afinação inexperiente,
seria a dor a melodia
e o ritmo o desconcerto
do que habita no avesso de nós.
Oxalá disso o mundo soubesse ...
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